15 setembro, 2016

O despertar

Imagine-se num verão, em sua casa num condomínio afastado do centro de uma cidade praiana. 
Para você o pior momento da vida é o ato de despertar e ter que levantar da rede postas entre duas árvores colocadas no quintal arborizado. 
Todas as vezes a mesma sensação o persegue, não sente-se dono do próprio corpo.

Nesses momentos preferiria ter nascido um animal selvagem sem responsabilidade e ficar ali parado até quando percebesse uma real necessidade de fazer algo. 
E isso é recorrente. 
Seus sonhos se tornaram pesadelos.

Numa manhã, depois de um sono mais agitados que os anteriores, viu seu desejo se tornar realidade: agora você é uma enorme preguiça de oitenta quilos, com dois metros de altura, trinta centímetros de cauda, com três grandes dedos em cada pé e com unhas bastante grossas compridas e curvadas.
Assustado grita: “vixe maria, e agora?”, mas não ouve a voz sair nem a boca se mexer.

Agora você está de cabeça para baixo trepado numa das árvores visualizando a casa cujo número é 666. 
Vê o laptop ali no chão e isso o fez lembrar da pesquisa da noite anterior sobre o fim do mundo e, também, de ter se inspirado e digitado um texto no qual se imaginou no ano 6666 cara a cara com a besta do apocalipse.

Achou tudo aquilo uma tremenda baboseira e o pior de todos os seus pesadelos, e, então, fechou os olhos para voltar a dormir. 
Você que gosta de dormir muito, incompreensivelmente fica com medo, pois logo analisou a situação e o local onde estava, acreditando que se voltasse a dormir poderia cair daquela altura e se espatifar no chão.

Começou a tentar ir em direção a rede e deitar-se lá até deus sabe quando. 
Mas o esforço o fez suar bastante e, era inútil, pois, a cada centímetro ‘andado’ a energia gasta era absurdamente grande tornando a ‘caminhada’ por demais desgastante e, pior, a rede parecia está sempre na mesma distância, ou seja, tinha a percepção, ainda que remota, de não sair do lugar.

Perdeu a conta dos passos dados, parou de contar em 66. 
O cansaço o abateu totalmente a ponto de não conseguir pensar em mais nada, nem em atitude alguma, a não ser ficar parado e deixar o tempo passar.

E aí lembra que não estás de férias e logo logo tem de tomar café pegar o carro e ir para o trabalho a quilômetros de distância. 
O negócio não anda bem, a empresa que você preside está no vermelho, endividada até a alma e os diretores já pensam em demitir algumas centenas de mães e pais de família, colaboradores seus que até o ano passado lhes davam lucro que era repartido igualmente a todos, mas a piora da situação da economia mundial parece não ter solução e você acha melhor que o mundo acabe, como num filme, sem sobrar nenhum ser humano na face da terra.

E aí você sente que sua respiração está lenta, mas o olfato está tremendamente aguçado, além de notar que era capaz de girar a cabeça de tal jeito que a cara pôde ficar nas costas. 
Voltando a cabeça para o peito você pensou: preciso dormir, estou com muito sono!

Vídeo_Música: 
The Robots_Kraftwerk
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Acessado em: 
17 de Setembro de 2016.

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